Por décadas a fio a ferrovia foi
perdendo a sua importância social, econômica e política no Estado de São Paulo.
Basta ao interessado lembrar ou estudar o que ela foi, e comparar com o que ela
é. Evidente que igual destino teve o ferroviário, inclusive nos trens “suburbanos”,
modernamente denominados metropolitanos, e que apenas ultimamente voltou a
experimentar certa valorização, igualmente por conta do capricho de razões
igualmente sociais, econômicas e políticas, em virtude do colapso do sistema de
transporte individual e coletivo de pessoas sobre pneus.
Como, porém, historicamente o
ferroviário dos dias de hoje é herdeiro da fase decadente da ferrovia, ainda
mantém um pé naquele período de desmonte e descaso para com o transporte sobre
trilhos.
A fase áurea está tão distante
que, no que diz respeito ao imaginário das novas gerações de ferroviários, fica
a impressão de que nela havia uma categoria heroica. Havia, é verdade, mas em
virtude de outro cenário social, econômico e político, que não é
necessariamente igual ao do presente. A categoria era tão poderosa, mas tão
poderosa, que junto aos portuários e marítimos foi desmantelada, por meio do
desmantelamento das ferrovias, portos e marinha mercante.
Nunca mais, porém, voltará ao
gigantismo do passado, e mesmo que volte, o “poder” não será o mesmo. Motivo? O
expressivo desenvolvimento da informática, telemática, robótica e terceirização
substituem postos de trabalho dos ferroviários. Bilheteiros e maquinistas, por
exemplo, são funções com dias contados. Não apenas eles, certamente, mas
desaparecerão como desapareceram foguistas, maquinistas de manobra, etc.
Ironicamente, porém, a nova
geração de ferroviários, com maior grau de escolaridade e convívio com tecnologias
em relação à geração passada, no que diz respeito ao PCCS tem se mostrado mais
interessada na diferença percentual entre os níveis do que na movimentação
horizontal e vertical que desenha o seu futuro.
Parece que a ninguém ocorre o “que
fazer” em caso da extinção de funções, e também não se nota preocupação com a
ausência de projetos de formação nos esforços estratégicos dos atuais gestores
da CPTM. Sindicatos, então, menos ainda, pois reproduzem pensamentos e ações do
velho e bom tempo do movimento trabalhista ferroviário do passado, e que não
sobreviveu ao declínio da ferrovia.
Não mais teremos de volta o passado,
e não temos a menor ideia do que nos reserva o futuro. Fossemos marítimos,
nossos irmãos de grandeza de outrora, e eu diria que estamos deriva.
Rogério Centofanti - SINFERP