As práticas dos sindicatos de
ferroviários no acordo que acaba de ser celebrado, além de alimentadas pelo
discurso míope e absolutamente equivocado de que dissonantes fizeram “uso
político” do momento são agora, depois de desdobramentos da greve dos
metroviários, regadas por um apelo paternal: preocuparam-se em preservar os
empregos dos pais de família da ferrovia.
Como são bons! Limpam a
negociação de uso político “dos outros”, e preservam os empregos de seus
representados. O preço disso é a aceitação e acatamento das políticas ditadas
pelos “patrões”, em troca da conservação dos empregos atuais e acompanhada de algumas
migalhas.
Os três sindicatos adotaram a
mesma política paternal, assim como os respectivos discursos. Criaram, finalmente, a tão desejada “unidade
de ação”, permeada pela mesma política adotada em comum: isolamento dos
descontentes e centralização do poder decisório, depois maquiada na forma “democrática”
de assembleias controladas, e Isso tudo em nome da defesa paternal do emprego
dos ferroviários. Lembrando que todo paternalismo tem caráter autoritário, e
está posto o desenho.
Parcela de ferroviários agradece.
Afinal, “pinga, mas tem”, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”,
“antes pouco do que nada” e outras expressões bem conhecidas no repertório do
comodismo e do conformismo, principalmente dos que têm mais tempo de casa e,
portanto, mais tempo de hábito cultivando o passar do tempo na espera da
sonhada aposentadoria.
Lamentavelmente, são pessoas
nessa condição que majoritariamente ocupam cargos de direção nos sindicatos
ferroviários. Nessa medida, errôneo dizer que representam a categoria. Elas
representam apenas o próprio status quo. Ouve-se por ai: “precisamos conquistar
aos poucos”, “não adianta lutar contra o mais forte”, etc.
Isso é facilmente encontrado nos
comunicados dos três sindicatos, mas principalmente em seus representantes nas
redes sociais, onde estão sempre presentes por meio de atitudes típicas de uma
flagrante operação “abafa”, visando desmobilização e conformismo.
Que fazer? Remover os diretores
de seus cargos? Em boa medida impossível. Necessário, porém, fazê-los repensar
o papel dos sindicatos, e consequentemente o próprio papel deles. Afinal, essa
possibilidade não está negada a ninguém.
Fato é que, mantida essa política
paternalista adotada por todos eles, e não é difícil prever o que acontecerá
com os ferroviários nos próximos anos. Alijamento da categoria do processo
negocial, ênfase nas cláusulas denominadas sociais (uma vez que
assistencialistas), baixo valor de conquista nas cláusulas econômicas, e o mais
completo descuido com o que de fato interessa para o futuro de novas gerações
na ferrovia – as carreiras e suas movimentações horizontais e verticais,
inclusive com previsão de realocação interna em caso de extinção de postos de
trabalho. O ferroviário está desaparecendo, sendo substituído por “terceiros”,
e eles nem mesmo percebem. Impera a lógica do que “quando isso acontecer não
estarei aqui”.
Terminada a negociação deste ano,
e eles voltarão à mesmice de costume, isto é, ao nada, retornando apenas no
início do próximo ano, quando da proximidade da data-base. Enquanto perdurar essa
mentalidade e essa rotina que se arrasta por décadas, e iremos acumulando
perdas sobre perdas, em todos os planos das relações de trabalho – ideológica,
intelectual, tecnológica, social, econômica e profissional.
A vida econômica, social e
política das nações não é a mesma na qual foram forjadas gerações anteriores.
Nessa medida, adequam-se aqueles que de forma direta ou indireta influenciam em
nossos destinos, ou estaremos irremediavelmente perdidos.