quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os ferroviários e o segundo turno das eleições na cidade de São Paulo



Agora sabemos os resultados do primeiro turno nas eleições de São Paulo. Para o segundo, caberá aos eleitores paulistanos a escolha entre Serra e Haddad – entre PSDB e PT.

Embora o Sinferp seja apartidário, enquanto entidade, não significa que seus dirigentes não possam manifestar-se, principalmente tendo em vista os objetivos da entidade – a defesa da ferrovia, dos ferroviários e dos usuários de trens de passageiros.

- Ah, mas é uma eleição municipal, poderá pensar o leitor, e que pouca influência tem no destino dos transportes sobre trilhos na cidade de São Paulo.

Sim, tem muito de verdade esse pensamento, mas cabem algumas considerações, principalmente dentre leitores ferroviários.

Se verdade que o governo do PSDB - há décadas no comando do Estado de São Paulo -, mantém e até mesmo investe em metrô e trens metropolitanos, também verdade que herdou esses patrimônios de governos anteriores, e que não eram do PSDB. Pela relação entre volume de investimentos em transportes sobre trilhos, e tempo no governo, parece aceitável afirmar que investiu pouco, ou aquém do necessário. No caso dos trens metropolitanos, então, a situação chega a ser bizarra, pois esse governo comprou muitos trens novos, verdade, mas só agora começa a investir na infraestrutura, visando reduzir o volume de falhas e acidentes, e, ainda assim, depois de negar por muito tempo a necessidade de modernização.

Não temos como avaliar o governo do Estado nas mãos do PT, pois nunca comandou o Estado de São Paulo. A julgar pelos raros debates que promove sobre os destinos dos transportes sobre trilhos em São Paulo, entretanto, não aparenta trazer grandes mudanças, mas não temos como emitir juízo. Ninguém tem.

Ao PSDB podemos creditar, e sem nenhuma chance de equívoco, o demérito de ter desmantelado e praticamente doado para a iniciativa privada toda a Malha Ferroviária Paulista. Ao PT, no governo federal, não desculpamos os mais de 10 anos de olhos fechados da ANTT para os desmandos das concessionárias privadas, em especial nos trechos da Malha Paulista. Assistimos, por anos e anos, os bens materiais e imateriais da ex-Fepasa irem literalmente para o ralo (para sucateiros, na verdade), enquanto a ANTT bravateava em torno do trem-bala.

Diante desses fatos, e apenas no que diz respeito à ferrovia, não temos, portanto, nenhum motivo para aplaudir PSDB e PT.

O Sinferp fez uma enquete e convidou todos os candidatos a prefeitura de São Paulo para participar. Haddad marcou presença, verdade, mas foi, diante de nossas expectativas, um tanto evasivo. Serra preferiu nos ignorar, como de costume.

Durante a campanha do primeiro turno, Serra muito falou em metrô e monotrilho, mas escudado nos investimentos do governo do Estado de São Paulo. Falou até mesmo em colocar “algum” do município de São Paulo em metrô e monotrilho, como também já havia falado Kassab, seu vice, e que se tornou prefeito em um de seus costumeiros abandonos de cargo. Haddad falou em coisas similares, mas contando com dinheiro do governo federal. Não apresentou projetos para transporte de pessoas sobre trilhos. Quanto a planos efetivamente municipais, e com recursos municipais, voltaram ambos aos famosos corredores de ônibus.

Sob esses aspectos, o eleitor paulistano não tem mesmo parâmetro para escolher um ou outro. Em qualquer dos casos, o governo do Estado de São Paulo, do PSDB, vai continuar investindo em metrô e trens metropolitanos, pois disso dependerão, em boa medida, os resultados das eleições de 2014.

Para os ferroviários, porém, a situação não é bem essa. Em menos de um ano sete ferroviários morreram nos trilhos enquanto trabalhavam, e o governo do Estado de São Paulo não teve o menor pudor em responsabilizar a todos eles, de imediato, pelas próprias mortes, antes de qualquer investigação. Por falar em investigação, por ordem do governador foi extinta uma delegacia especializada em acidentes do trabalho, dois dias depois do segundo acidente, e que vitimou dois ferroviários. O mesmo governo impediu a participação do sindicato em sindicâncias, cujos resultados são até hoje desconhecidos.

Quando de descarrilamentos, falhas e até acidentes envolvendo passageiros, o atual governo do Estado de São Paulo culpou ferroviários, vários deles demitidos de pronto por justa causa, antes mesmo, também, de qualquer apuração.

Esse mesmo governo, e em plena campanha eleitoral, perseguiu dirigentes sindicais e desalojou um sindicato ferroviário de sua sede social.

Isso tudo, é claro, sem contar o que passamos de perto com a saga terceirizante do atual governo do Estado de São Paulo, dentro da ferrovia.

Para os ferroviários eleitores de São Paulo, me parece claro que votar no candidato do PSDB é fortalecer um polvo que nos devora.

Não tenho nada em favor do PT. Lamento, inclusive, que tenha abandonado as suas raízes trabalhistas. Lamento que seus deputados estaduais não lutem, de forma contundente, pelo resgate da Malha Ferroviária Paulista. Que não criem leis que obriguem concessionárias de transporte de pessoas sobre trilhos a garantir qualidade de serviço e segurança aos usuários, mas, como sindicalista ferroviário, já deu para saber do que o PSDB é capaz, ao menos no Estado de São Paulo.

Éverson Paulo dos Santos Craveiro – Presidente do Sinferp