terça-feira, 11 de setembro de 2012

Motivos para tarifa reduzida em Pinheiros (SP) não dar certo


A redução tarifária na estação Pinheiros da CPTM, em São Paulo, anunciada pelo líder da pasta de transportes metropolitanos Jurandir Fernandes, surpreende a população, mas ainda não é a plena solução pra um problema antigo e aparentemente interminável: a superlotação nos horários de pico. O gargalo foi intensificado exponencialmente pelo surgimento da linha 4 - Amarela, uma das principais responsáveis pela lotação. Antes da criação da linha, realizar o trajeto de Santo Amaro até a Luz levava pouco mais que 50 minutos. Hoje dura 28 minutos, tornando assim pra quem parte da Zona Sul mais proveitoso trabalhar no Centro.

Acompanhando esta nova demanda, o outro lado cresceu de modo semelhante. Sabe-se que a região de Santo Amaro tornou-se, nos últimos anos, o principal centro para instalação de empresas de grande porte. Algumas indústrias ainda permanecem, mas, cada vez mais os prédios crescem, a ocupação vertical se acentua e atrai mais pessoas. E a possibilidade de sair, por exemplo, de Itaquera pela linha 3 - Vermelha e chegar na mesma Santo Amaro em 1h07 aproximadamente, tornou mais atrativo batalhar melhores empregos ou mesmo se colocar profissionalmente na Zona Sul.

Com isso, em menos de um ano, a linha 9 - Esmeralda cresceu de pouco mais de 200 mil usuários até janeiro de 2011 para 440 mil na última pesquisa da Agencia Nacional de Transporte de Passageiros (ANTP).

Diante disso, a medida que Fernandes começa a colocar em estudos é a redução tarifária nos vales. A mesma já existe para quem utiliza o Bilhete Único até 5h30 na CPTM e 6h no Metrô, expandindo para a faixa de 9h a 16h30. Caio Ortega, usuário da CPTM e esporadicamente do Metrô, diz que o sistema pode ser melhor balanceado: "Pode estimular a flexibilização dos horários de trabalho das pessoas e, de qualquer forma, estimular demanda no vale é positivo", diz. Santiago, no Chile, é outro sistema de Metrô que mantém tarifas reduzidas em horários de menor demanda.
Mas Rogério Centofanti, consultor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias em Transporte de Passageiros da Zona Sorocabana - Sinferp e lidera a campanha "SÃO PAULO TREM JEITO", diz que "as pessoas não estão nos horários de pico por opção ou pelo mero exercício de algum fetiche masoquista".

Segundo Centofanti, para que não se altere as condições do transporte, até mesmo evitar uma ampliação que a curto prazo é quase impossível, seria  necessário uma diferenciação de horário em certas atividades comerciais. "Para dizer de outro modo: o Estado atende à dinâmica da sociedade ou a sociedade se ajusta à dinâmica do Estado".

Ortega também opina dizendo ser preciso "criar horários de acordo com a demanda das linhas com tarifa para os vales e ver se o empregador sai ou não ganhando". Não se muda, simplesmente, turnos e cria-se novos horários de trabalho se o mesmo não enxergar vantagens, desde produtivas até financeiras. "No caso específico da CPTM, ela precisa melhorar a logística de intervenções para fazer isso, pois o sistema só funciona nos picos. No restante do tempo, nem sempre funciona para o usuário", afirma.

Nessa questão entra o que foi constatado recentemente pela SPTrans: a queda dos usuários de ônibus na capital. Uma tarifa menor poderá trazer ainda mais usuários de ônibus pro Metrô. E, nesse caso, a capilaridade é que pode balancear o que acontece hoje com a linha 9: a conclusão da já atrasada linha 5 - Lilás até a estação Chácara Klabin.

Diminuir demandas sem uma intervenção nos empregos e, até mesmo, tratos políticos e negociação para implantar mais locais de interesses para profissionais diversos - pois hoje, embarca-se nas linhas da CPTM e Metrô, desde o "peão até pós-doutor" -, não teremos um fluxo um pouco mais aceitável. Enquanto isso, cobrar os investimentos e melhorias deverá ser feito pelos usuários. Nas ouvidorias, redes sociais e nas urnas.

Fonte : Porto Gente – Matéria e foto de  Ítalo Silva – 11/09/2012