Para ferroviários que acompanham negociações coletivas da categoria não deve ser novidade a existência de três sindicatos de base na CPTM: São Paulo, Central e Sorocabana, bem como suas respectivas linhas de representação.
No caso das linhas 8 e 9 não deve também ser novidade a criação de um sindicato específico de ferroviários de trens de passageiros – SINFERP -, cujos diretores passaram a representar os ferroviários dessas linhas junto à CPTM por procuração de Rubens dos Santos Craveiro e sob referendo de assembleias.
A própria criação do SINFERP foi projeto de Rubens dos Santos Craveiro, e sua existência política e material deu-se, de um lado, por procuração, para que atuasse em nome do Sindicato da Sorocabana e, de outro, pelo repasse das verbas advindas de mensalidades, etc. dos ferroviários das linhas 8 e 9.
Nunca se pretendeu fazer do SINFERP um quarto sindicato, pois sua reivindicação de base territorial está circunscrita à legitimamente ocupada pela Sorocabana. A emissão da carta sindical do SINFERP - e desde o início de seu processo de fundação – foi questionada por dois sindicatos: um sindicato de terceirizados que recorreu à Justiça, mas que perdeu o pleito em todas as instâncias; e o sindicato de São Paulo, que recorreu em âmbito administrativo ao Ministério do Trabalho. A pendência, portanto, continua por conta da ingerência do Sindicato de São Paulo.
Com o falecimento de Rubens dos Santos Craveiro, porém, essa situação foi alterada. Ao assumir a presidência do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana, Izac de Almeida não renovou a procuração para que dirigentes do SINFERP continuassem a representar os ferroviários das linhas 8 e 9 junto à CPTM, e tampouco manteve o repasse de verbas oriundas das contribuições de ferroviários dessas linhas.
Em resumo: Izac de Almeida rompeu com o SINFERP todos os acordos anteriormente firmados com esta entidade por Rubens dos Santos Craveiro. Izac de Almeida já esteve reunido com a CPTM, reclamando para si a representação da base. Ele está transferindo a sede da Sorocabana para Osasco, e passou a contar em seus quadros com a migração de pelo menos três dirigentes do SINFERP: Múcio Alexandre Bracarense, Evângelos Loucas (Grego) e Alessandro Viana, pessoas em quem a categoria reconhece a qualidade de representantes da Sorocabana desde a época do acordo político - e principalmente econômico - firmado com Rubens dos Santos Craveiro, quando na presidência do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana, na condição, porém, de membros do SINFERP.
Do ponto de vista jurídico, portanto, o Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana passa a responder literalmente pela defesa dos interesses individuais e coletivos dos trabalhadores das linhas 8 e 9 da CPTM, devendo os ferroviários encaminhar a seus diretores - e aos do SINFERP que para lá migraram – suas perguntas e reivindicações.
Isso significa a morte do SINFERP?
Não. Éverson Paulo dos Santos Craveiro e mais alguns dirigentes, assim como um pequeno, mas expressivo quadro de profissionais, continuarão à frente da entidade, mantendo e até mesmo ampliando projetos que norteiam os objetivos do SINFERP desde o seu nascedouro, com destaque aos que independem da expedição da carta sindical. Afinal, podem ter retirado do SINFERP – ao menos temporariamente – a sua condição de representante legal da categoria, bem como os recursos para a sua manutenção (receitas), mas não poderão dele retirar o que sempre teve de mais importante – sua independência e seus conhecimentos convertidos em habilidades.
Esta última novidade, entretanto, apenas soma-se a problemas anteriores conhecidos da categoria, tais como desalojamento da sede social, perseguição nos locais de trabalho, processos e demissões. Agora o SINFERP tem apenas mais um problema a ser superado.
O SINFERP manterá a sua sede na Rua Dona Primitiva Vianco, 600 – Osasco – e apenas aguarda o Sindicato da Sorocabana instalar-se em sua nova sede, para que funcionários da Sorocabana alocados no SINFERP sejam transferidos, assim como os dirigentes do SINFERP que migraram.
Não se ter representação por enquanto não significa, porém, abandono aos ferroviários das linhas 8 e 9, bem como aos ferroviários de qualquer outra linha que queiram discutir questões de caráter individual ou coletivo na CPTM. Apenas deixou-se de assumir – de forma temporária – a responsabilidade por tais questões, que passam integralmente a diretores e representantes do Sindicato da Sorocabana. O SINFERP, todavia, não se furtará a nenhuma discussão ou exposição de seus pontos de vista nos aspectos políticos, administrativos e jurídicos dos interesses maiores da categoria junto à CPTM. Manterá no ar o São Paulo TREM Jeito, o Movimento Online, o portal do SINFERP, marcando presença nas redes sociais. Suas portas continuam abertas a todos.
Longe do emprego de clichês caricatos, típicos do “realismo revolucionário” que até os pelegos adotam para dar-se a aparência de combatividade - termos que não fazem nem farão parte da linguagem do SINFERP -, pode ele, todavia, literalmente, dizer que: sim, a luta continua.