quinta-feira, 28 de junho de 2012

CPTM finalmente admite outra morte em seus trilhos


Desde novembro de 2011, sete pessoas que trabalhavam para a CPTM foram atingidas por trens no sistema

SÃO PAULO - O total de pessoas em serviço mortas nas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) chegou a sete em um período de apenas seis meses. O caso mais recente é de um funcionário terceirizado que morreu atropelado por uma composição no último dia 23 de maio. A ocorrência veio à tona mais de um mês depois, com uma denúncia do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias em Transporte de Passageiros da Zona Sorocabana (Sinferp).

O ajudante Michel Barbosa Ferreira da Silva, de 20 anos, trabalhava em uma obra de revestimento de um bueiro na Linha 7-Rubi (Luz-Francisco Morato), no trecho entre as estações Baltazar Fidélis e Francisco Morato. Ele era contratado do consórcio ICS, formado pelas empresas Iesa, Consbem e Serveng, responsável pela intervenção. Por volta das 14h45 daquele dia, Silva foi atingido por um trem que seguia no sentido Francisco Morato.

A CPTM alega que o funcionário "desrespeitou as normas de segurança", atravessou a área delimitada de serviço sem avisar o centro de controle e entrou na via férrea. Segundo a empresa, o local no qual ele estava trabalhando ficava a cerca de 20 metros dos trilhos. O sindicato, por sua vez, afirma que "mais uma vez faltou fiscalização por parte da CPTM". O consórcio ICS afirma que a responsável por supervisionar esse tipo de trabalho é a CPTM.

Questionada sobre o motivo de o acidente não ter sido divulgado, a CPTM informou apenas que o boletim de ocorrência policial do caso, registrado na Delegacia de Francisco Morato, "é público".

Desde novembro de 2011, outras seis pessoas que estavam trabalhando para a CPTM, algumas de forma terceirizada, morreram atropeladas por trens no sistema. Em 27 de novembro, uma composição na Linha 11-Coral (Luz-Estudantes) atingiu quatro técnicos que se deslocavam pela via, entre as estações Tatuapé e Brás. Três delas morreram. No dia 5 do mês seguinte, dois empregados que inspecionavam a via permanente foram atropelados e mortos por um trem na Linha 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi), perto da Estação Barueri.

Em fevereiro, um segurança terceirizado morreu ao ser atropelado por um trem de carga da MRS Logística na região de Suzano, na Grande São Paulo. Houve outros casos de atropelamentos de pessoas que não trabalhavam na CPTM. Um homem, inclusive, morreu em março ao ser atingido por um trem em São Miguel Paulista.

Sobre o caso de Francisco Morato, a CPTM informou que uma sindicância foi aberta pelo consórcio ICS para investigar as causas do acidente. De acordo com o consórcio, a apuração revelou que "o funcionário afastou-se de sua frente de serviço" e entrou na via "sem autorização".

Jornal da Tarde – Caio do Vale – 27/06/2012

Comentário do sindicato:

Mais uma vez a culpa é do morto. Era um rapaz de 20 anos... Evidente que a responsabilidade objetiva é da CPTM, pois o trabalhador prestava serviço nos próprios da CPTM. Seguramente não havia a presença da segurança do trabalho da CPTM, e nem de supervisor da CPTM. O que, de normas ferroviárias em geral, e da CPTM em particular, pode saber um rapaz de 20 anos, possivelmente com poucos meses de experiência profissional? Apenas uma correção na notícia, embora sem muita importância: o sindicato denunciou bem antes de um mês após a ocorrência do acidente. A julgar pelos desdobramentos das mortes anteriores, esta será mais uma na vala comum da impunidade, apagada pelas tais "sindicâncias", cujos resultados NUNCA são conhecidos. E assim caminha a vida, em meio a tantas mortes, nos trilhos da CPTM. Os parabéns do SINFERP e dos ferroviários ao jornalista Caio do Vale, bem como a outros que deram ouvidos ao nosso grito de alerta.