quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Entrevista : Conheça um pouco mais sobre o Engenheiro Paulo Roberto Filomeno - Palestrante do curso de História da Ferrovia em São Paulo

Na foto : O Engenheiro Paulo Roberto Filomeno 

Engenheiro de Telecomunicações há 24 anos, Paulo Roberto Filomeno é o palestrante do curso “História da Ferrovia em São Paulo” que, acontecerá em nosso Sindicato nos dias 06 e 08 de Março.

Em entrevista ao SINFERP, Paulo, falou do inicio de sua paixão pela ferrovia, fez uma análise da infraestrutura do estado de São Paulo em relação aos meios de transportes coletivos e de suas expectativas quanto ao curso.

SINFERP: Quando a história do Paulo encontrou-se com a da ferrovia?

Paulo Roberto Filomeno: Eu acho que já nasci gostando de ferrovias [risos]. Mas enfim, nasci na região do Brás em São Paulo, onde ficávamos próximos de duas ferrovias: a de Santos - Jundiaí e Central do Brasil.

O meu avô, já aposentado do transporte rodoviário de cargas por fazer muitas entregas naquele local, conhecia bem aqueles pátios, então, costumava a me levar até lá, onde eu achava que era dono daquela coisa toda. Subia nos vagões das locomotivas, andava para lá e para cá e praticamente só descia quando o trem tinha sinal verde para partida. Até dentro da cabine do trem de Santos - Jundiaí eu cheguei a ir.

Enfim, toda essa história com a ferrovia desde garoto, fez com que eu direcionasse a minha vida profissional a ela. Então há mais ou menos dozes anos eu comecei dentro da minha área de atuação a trabalhar também com a parte ferroviária, ou seja, onde as telecomunicações poderiam se envolver com a ferrovia.

Hoje, tenho uma empresa que trabalha prestando serviços de consultoria para ferrovias em geral na área de telecomunicações e eletrônica.

SINFERP: Hoje, trabalhando com ferrovias, como você enxerga essa explosão do setor ferroviário?  Afinal, só se fala em ferrovias.

Paulo: Realmente aconteceu essa explosão do setor, mas a meu ver, o potencial que ainda existe para o uso da ferrovia não está tão bem explorado.

SINFERP: Por quê?

Paulo: Porque eu vejo as operadoras de carga simplesmente como um transporte de commodities que, usam a estrutura da ferrovia e não trazem beneficio algum por onde passam. E apesar da privatização ter trazido novas operadoras, não vi nenhum beneficio a população, muito pelo contrario, só o aumento da destruição disso tudo.

Em relação ao transporte de passageiros, em São Paulo ainda se viu uma melhoria,  comparando  a antiga CBTU e a FEPASA em relação ao transporte no subúrbio.

O Metrô sempre teve uma excelente qualidade aqui, porém, nas outras capitais a coisa já não melhorou tanto assim, a exemplo do Nordeste que parece  nunca sair do lugar, as coisas ficam sem concluir, enfim, se ouve muito sobre a explosão do setor, mas na prática nada acontece.

SINFERP: Em sua opinião, o que é necessário então para que isso aconteça na prática? 

Paulo: O que eu vejo é que precisamos de uma politica um pouco mais cuidadosa. Precisamos usar a infraestrutura que já existe para disponibilizar mais trens regionais, afinal, não podemos deixar tudo nas mãos dos ônibus. Isso é uma coisa necessária, acredito que muito mais necessária que o tão falado TAV (Trem de Alta Velocidade), que em minha opinião é um projeto sem fundamentos, pois, ninguém sabe ao certo onde vai passar e como ele vai descer 400 metros em desnível de serra sem perder a velocidade em um percurso tão pequeno.

Precisa existir uma política mais coordenada no sentido de integrar e aproveitar melhor a estrutura já existente.

SINFERP: Sobre essa questão da integração de estrutura já existente, os ferroviários da  Sorocabana tem o projeto de um ferroanel metropolitano que auxiliaria nesta integração. Como você vê essa possibilidade? Isso ajudaria?

Paulo: O ferroanel metropolitano não precisa ficar tão distante do centro da cidade, como é o caso do ferroanel de carga que está sendo projetado, mas é uma coisa necessária porque tem aqui a linha 9 e 10 da CPTM que passa pelo ABC, um percurso que se fosse feito de carro não seria uma distância muito grande. É um corredor da Avenida Vicente Rao, da Cupecê, em São Bernardo um corredor que vai sair dali direto na estação de Santo André, se tivesse uma linha de trem ou metrô faria esse percurso em 20 minutos e estaria ligando regiões totalmente distintas e também sem ter que passar pelo centro da cidade.

Porque o que acontece hoje com o transporte de passageiros é igual ao de cargas, ou seja, o cidadão precisa pegar o trem metropolitano para sair da periferia, ir até o centro da cidade e lá ele pega outro trem para voltar em outro lugar da periferia. Isso significa que a integração está sendo feita em poucas estações metropolitanas e estas ficam saturadas.

Não se faz um estudo concreto de onde o público sai e volta. Precisa existir um estudo melhor desses percursos e tenho certeza que se isso realmente fosse feito, viabilizaria um ferroanel metropolitano para transporte de passageiros.

SINFERP: Agora em relação ao curso, como você pretende abordar a história da ferrovia?

Paulo: O objetivo do curso é mostrar para todos os interessados que a ferrovia nasceu com um propósito. Aqui em São Paulo, teve o café como grande motivador e trouxe uma série de benefícios como todas as cidades que nasceram em torno dela, o conhecimento desde o aperfeiçoamento técnico a novas profissões, ou seja, ela foi meio progresso industrial, dentro de um país até então agrícola.

Então nós vamos mostrar desde a concepção das antigas ferrovias, sua motivação, como cresceram e evoluíram, porque pararam de repente, mas principalmente mostrar que hoje não é importante  que se pense como seria bom voltar a tudo aquilo e sim resgatar a importância que o trem tinha naquela época, trazer isso para o futuro, pois, se quisermos um transporte ferroviário forte, nós vamos ter um encurtamento de distância, de tempo para as necessidades do dia a dia. É uma discussão do futuro, do que deixamos de ter e que poderíamos ter com mais vantagens levando em conta a tecnologia de hoje que também é outra.

É conscientizar as pessoas da importância que a ferrovia teve e ainda tem.

SINFERP: Qual sua expectativa em relação ao resultado do curso?

Paulo: Como é um curso aberto a todos os interessados e está divulgado na internet, acredito que seja um público heterogêneo, não vamos ter só ferroviários aqui. Mas o que eu espero é a presença de gente da imprensa que possa divulgar essa percepção de que ferrovia não é coisa do passado e que investir nela, não é somente uma concorrência com os outros meios de transporte e sim um beneficio geral.

SINFERP: Então ,São Paulo TREM Jeito?

Paulo: Sem dúvidas, no entanto que, desde que conheci essa campanha criada pelo Sindicato, tenho contribuído com o máximo de informações, pois, tenho certeza de que não apenas São Paulo, “O Brasil TREM Jeito”.

Por Camila Mendes / Da Redação