Trabalhadores da Webjet demitidos |
Aceitar a extinção da Webjet e a demissão de 850 de seus funcionários é perder a noção do que uma empresa de transporte representa para o interesse público.
Empresa de transporte, assim como algumas de outros segmentos, funciona por concessão do Estado. Nessa medida, não é como uma fábrica de sabonetes, que pode ser aberta e fechada quando dá na telha do dono ou dos acionistas.
A Webjet funcionava por concessão e, quando comprada pela GOL, não perdeu seu caráter de concessão. O ato de fusão deu a GOL o direito da extinção da Webjet? A frota da Webjet era antiga e dispendiosa? Bem, devemos com isso imaginar que a GOL irá substituir toda aquela quantidade de aeronaves? Parece que não, pois fosse esse o caso, e não teria motivos para dispensar tantos funcionários, em especial aeronautas.
Não. A GOL comprou a Webjet apenas para ficar com as permissões para as quais ela tinha concessão, e nada mais. Empresas de ônibus fazem a mesma coisa para comprar apenas concessão de linhas. Tiram as menores do caminho, limpam a área, e depois fazem o que bem entendem.
A consequência, para todos nós, é o espaço aéreo sendo dominado pela GOL e pela TAM. Como é grande o bastante para elas, fácil dividir o bolo, e praticar o mesmo preço por quem quiser comprar uma fatia de uso. A extinção da Webjet terá como consequência o nivelamento dos preços, mas por cima.
Como pode o governo aceitar uma coisa dessas, lembrando que falamos de concessões? Evidente que está em discussão o interesse público.
Decisão como essa serve apenas aos interesses dos acionistas das duas empresas aéreas que se tornam monopolistas, e dos empresários de ônibus, que terão melhorados os seus rendimentos.
Grande negócio para todos, inclusive para o governo, que verá reduzida a ocupação do espaço aéreo e, como consequência, dos aeroportos. Bom para todos? Bem, menos para os brasileiros, mas somos apenas – e sempre – os pagadores desses grandes negócios “deles”.
Isso não é diferente nem mesmo com os transportes metropolitanos de pessoas sobre trilhos. Em nome da “demanda”, isto é, do faturamento, A CPTM não amplia linhas, não cria novas estações, mas apenas compra trens novos, justamente pela lógica da GOL – dispensam manutenção enquanto novos. Quanto mais lotados melhor, pois o faturamento está garantido por viagem. Os usuários que se apertem. Importante é que paguem a passagem. É o governo imitando as práticas privatistas das empresas aéreas e rodoviárias, de onde, portanto, “entender e aceitar” que as concessionárias privadas façam a mesma coisa.
Qualidade? Segurança? Que qualidade e segurança precisa apresentar uma CPTM, uma vez que monopolista? Que qualidade e segurança precisa apresentar uma empresa de ônibus, uma vez que tem monopólio da linha? Que qualidade e segurança precisam apresentar GOL e TAM a partir do momento que praticamente dominarão o transporte aéreo no país?
E ainda querem convencer as pessoas a substituir os automóveis pelos transportes coletivos...
Nunca pensei que um dia fosse dizer isso, mas me parece chegado o momento de abrir fronteiras para que empresas internacionais entrem no país e, competindo com as nacionais públicas e privadas, explorem o transporte de passageiros nos modais rodoviário, aéreo e ferroviário.
Creio que é a única forma de ameaçar os interesses “deles”, e de “talvez” atender os nossos. Talvez fiquemos na situação ambígua da Saúde, isto é, entre um SUS desprovido de qualidade e segurança, e os planos de saúde que funcionam como caça-níqueis. Talvez fiquemos na situação ambígua da Educação, isto é, entre as poucas universidades públicas de qualidade discutível, e o oceano de universidades particulares que negociam diplomas.
Talvez fiquemos na situação ambígua da Habitação, isto é, entre conjuntos habitacionais excessivamente caros para a qualidade, escassos na quantidade de oferta justamente para justificar o injustificável preço dos oferecidos, e os aluguéis. Talvez fiquemos na situação ambígua da Segurança, isto é, entre a segurança pública que não está conseguindo cuidar nem mesmo de si própria, e a segurança privada para quem puder pagar.
De qualquer forma, de uma coisa tenho plena certeza: pior não fica.
Éverson Paulo dos Santos Craveiro – Presidente do SINFERP