segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mais mortes nos trilhos paulistas



Em novembro de 2011 o governador de São Paulo anunciava, em clima de festa, o investimento de 4,1 milhões na Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Basta olhar superficialmente as fotos do último acidente, disponíveis nos meios de comunicação,  para notar o de sempre: trem novo circulando sobre trilhos e dormentes nada novos. Não é difícil imaginar que a situação seja no mínimo assemelhada nos demais aspectos da infraestrutura da EFCJ.

Difícil avaliar na distância o que possa ter ocorrido, e nem mesmo devido, mas a experiência nos diz três coisas:

1. Essa conversa de sindicância é balela. Prazo mínimo de 30 dias? Apenas reafirma a balela. Medida para abafar o acidente e esperar até que caia no esquecimento. É igual na CPTM. Quem vai apurar? A direção da Estrada de Ferro Campos do Jordão? Ora, que credibilidade tem isso? É igual na CPTM, onde os resultados nunca são conhecidos. No caso da CPTM, e antes mesmo de qualquer sindicância, a “culpa” é atribuída ao primeiro ferroviário que estiver por perto, e de imediato demitido por justa causa. Ainda no caso da CPTM, o governo do Estado de São Paulo teve mesma prática até mesmo com ferroviários mortos no cumprimento do dever, responsabilizando a TODOS pelas próprias mortes, e note-se que estamos falando de sete em menos de um ano. Morreram por falta de medidas de segurança da empresa, e não deles, ou apenas deles, na MELHOR das hipóteses. Não existe, no caso de acidentes ferroviários, nenhum órgão independente que os investigue, diferentemente de acidentes aéreos, marítimos e mesmo rodoviários. Por conta dessa ausência, passageiros de trens ficam literalmente nas mãos das concessionárias.  No caso do Metrô, pelo menos existe a fiscalização de certificadoras externas para aspectos de qualidade e de segurança. Nada disso na CPTM, e possivelmente nada disso, também, na EFCJ. Infelizmente não se enxerga, da parte do governo ou dos deputados estaduais, nenhuma iniciativa no sentido de criar essa “figura independente” para fiscalizar e investigar, e que seria fundamental para tirar das concessionárias a sensação da mais completa impunidade, quando de acidentes como este de Campos do Jordão.

2. O governo do Estado de São Paulo tem, e faz tempo, se pautado pela prática de comprar trens novos, mas sem a devida contrapartida em investimentos na via permanente, rede aérea, subestações, sistemas de sinalização, de comunicação, etc., em resumo, na infraestrutura. O acidente na Estrada de Ferro Campos de Jordão deve ter ocorrido em meio a esse descompasso. Problema de manutenção da via ou de manutenção da composição? No caso da CPTM, a situação é similar. O governo do Estado de São Paulo compra trens novos, mas que não podem ser plenamente utilizados em sua capacidade plena, pela falta de subestações, pela ausência de confiabilidade nas tecnologias de controle e de comunicação, etc. Isso tudo, ainda, sem dizer que a capacidade hidroelétrica do Estado de São Paulo parece estar no limite, nos colocando diante da possibilidade de um verdadeiro apagão, isto é, trens novos, subestações novas, mas com falta de energia elétrica para fazer com que o sistema funcione. Não precisamos chegar a tanto, porém, para comprovar o descaso com o conjunto do sistema. Trens novinhos em folha, e que chegam de fábrica com sensores de descarrilamento (que automaticamente freiam o trem caso “acusem” descarrilamento), são levados para as oficinas da CPTM onde são desativados, pois poderiam “falsamente” acusar um descarrilamento e parar a composição. Motivo? Irregularidades na via poderiam fazer com que os sensores fossem ativados. Por ai vai. Poderíamos citar pelo menos uma dezena de absurdos como esse.

3. O que afronta os ferroviários, porém, é a prepotência imperial do governo do Estado de São Paulo, que insiste em negar as causas dos problemas. Chega a ponto de perseguir entidades como a nossa, que nada mais faz do que não se conformar com essa constante cortina de fumaça sobre circunstâncias que colocam em risco a vida dos ferroviários e dos usuários. O governo do Estado de São Paulo é centralizador, incompetente para o diálogo com a sociedade, e excludente com quem exerce o direito da crítica em nome do bem comum. Está fazendo o mesmo com policiais civis e militares, mortos pelo crime organizado, em uma “guerra” que o governo do Estado de São Paulo nega. Sempre nega a existência de problemas maiores, e a todos eles atribui sempre o mesmo bordão – “caso isolado”. É possível que diga o mesmo do acidente de Campos do Jordão - caso isolado.

A ver os desdobramentos de mais este acidente, de mais estas mortes nos trilhos nas duas únicas ferrovias que restaram no Estado de São Paulo – CPTM e EFCJ. 

O SINFERP lamenta pelos mortos e feridos em mais este acidente, e hipoteca solidariedade aos ferroviáros da EFCJ, pois sabe que podem se tornar alvos.