terça-feira, 20 de setembro de 2011

Diretor da CPTM sai dos trilhos quando perde o Script

Diretor da CPTM durante apresentação de palestra 

Não restam dúvidas de que o transporte sobre trilhos é um dos temas mais discutidos do país, especialmente em São Paulo, que tem esse modal como solução para o trânsito caótico da cidade e a estimativa é que, até 2016, o estado investirá R$ 44,67 bilhões na melhoria desse meio de transporte.  

A grande questão é como será aplicado tamanho investimento. No cenário atual, o Metrô é o mais beneficiado dentro desse plano. Só este ano, o governo tem um orçamento de R$ 30 bilhões para o metrô de São Paulo. Com isso a rede ganha cada vez mais espaço devido ao aumento de suas linhas, porém, cresce de maneira desproporcional já que, não possuem um projeto concreto de integração dessas linhas para atender as reais necessidades da população.

Uma opção há muito sugerida pelo Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana é a de um ferroanel metropolitano de passageiros como uma rede integradora, que auxiliaria na conectividade com o metrô e os demais meios de transporte.

Entre os dias 13 e 16 de setembro o Sindicato esteve presente na 17ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, realizada pela AMEAMESP (Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô), no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, onde o tema principal foi mobilidade urbana sobre trilhos.

O evento reuniu representantes da indústria ferroviária, profissionais do setor, parlamentares, sindicalistas e imprensa.  

Em entrevistas com as autoridades do estado e do setor ferroviário, o Sindicato da Sorocabana questionou a questão do ferroanel e o porquê de investir somente nas cargas, como é o objetivo atual do governo.

Com exceção do Diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o senhor Silvestre Eduardo Rocha Ribeiro, que julgou a pergunta como uma "provocação" do Sindicato, os demais entrevistados falaram um pouco da questão do ferroanel e de suas perspectivas para o futuro.

Confira as entrevistas na íntegra.

1ª Entrevista: Realizada em 15/09/2011 com Silvestre Eduardo Rocha Ribeiro, Diretor da Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM).

SINFERP – Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana: Silvestre, existe o projeto de um ferroanel para passageiros elaborado pela Sorocabana em 1971. Dentro de tudo o que foi apresentado hoje, em relação à integração de operadoras e a melhoria da comunicação entre elas, por que não um ferroanel metropolitano da CPTM?

Silvestre Eduardo Rocha Ribeiro (CPTM): E por que sim?

SINFERP: Dentro desses novos projetos e tudo o que eles representam, nós sabemos que são soluções imediatas e não definitivas. Portanto o ferroanel não seria a melhor opção para ajudar nesta integração e aliviar a principal preocupação, que é desafogar as linhas de metrô e dos outros meios de transporte?

Silvestre: Vamos entender que não há um sistema ou uma operadora que auxilia outra operadora, existe um plano de mobilidade dentro da região, no caso específico de São Paulo, temos e fazemos regularmente um plano integrado de transporte urbano que, chamamos de PITU. Em São Paulo o PITU 20 e 25 é um principio para nos dar essas diretrizes de linhas que demonstram sua complementariedade e sua conectividade dando essa demonstração de rede colocada.

Porque mesmo que eu circunde, só atenderia uma demanda especifica de um deslocamento radial e para isso há necessidade de ter DEMANDA.  Então eu tenho que acatar a exigência de mobilidade junto com a infraestrutura.

O que se busca em curto prazo e isso. Já estão sendo demonstrados pelos projetos já em fase de implantação é exatamente de tirar a centralidade da LUZ, porque ela é histórica, e vir complementando com a rede. Quer dizer, eu retornei a PROVOCAÇÃO, porque exatamente este anel ele tem uma forma de rede e não de contorno, pois, se o metropolitano for passar no entorno, o tempo de viagem fica muito longo e não é atrativo, ele vem dentro do que chamamos de vício expresso, menos tempo e mais velocidade na transposição, ai dentro ainda desse chamado anel eu vou dar alguns exemplos:

Primeiro vou partir da linha 1. Existe um sistema da EMTU que faria uma ligação de Tucuruvi até Guarulhos. De Guarulhos existe outra proposta, que é estudar uma conexão até o ABC. No ABC já tem uma conexão com sistema dobre Pneus da EMTU, saindo dali você tem um projeto que é exatamente a linha 18 do Metrô e que têm uma grande participação de recursos da União. E dali, a linha chega até a 9 da CPTM dando um contorno.

Essa linha já passa ao longo do Tietê. Lembrando que as linhas 2, 3 e 4 cruzam e hoje de manhã foi inaugurada a chegada da linha quatro na LUZ.

A linha cinco estendida cruzando a nove, chagando na um e cruzando as outras existentes. A 10 além de atender a linha 1 do metrô, ele cruza a 2 em Tamanduateí A METRA, operadora da EMTU em Santo André, a Pirelli com seu corredor em Guarulhos e ABC. Daí você vê que essa conformação de rede, ela existe e vai ajudar a desafogar uma linha ou outra. Quando você dá essa conectividade, o cidadão escolhe o melhor caminho. Hoje, passa pela LUZ porque estamos oferecendo esse entroncamento, mas a tendência é abrir, uma ponta seria LAPA com uma linha futura do metrô. Lapa eu teria linha 7, 8, 9 e essa nova linha do metrô em projeto. Na Água Branca eu tenho a 7, 8, 9 e a linha 6. Na Barra Funda a 7,8 e a linha 3 do metrô, chegando à linha 10 e a linha 11. Na Luz eu tenho linha 4, 1, 7, 8 e 11. No Brás eu tenho linha 10, 11,12 e futuramente a 13 e a linha 3 do metrô. Em Tamanduateí então eu tenho o expresso ABC a ser implantado, a linha 10 e 2. Em Tiquatira que é na linha 12 tem a conexão com a linha 13 e 15 do metrô, então isso que você chamou de anel para ajudar a desafogar eu entendo que é um projeto de rede que ela distribui e otimiza a infraestrutura.

2ª Entrevista: Realizada em 16/09/2011 com o Deputado Federal, Vanderlei Macris.

SINFERP: Como o senhor vê esse aquecimento do setor ferroviário no país e os diversos projetos que estão sendo apresentados, como o ferroanel, por exemplo?

Vanderlei Macris: Primeiramente eu acho que o Brasil começa a se reencontrar com a sua história, o país já teve um momento auge da ferrovia que lamentavelmente foi substituído pela modal rodoviária, causando um grande atraso ao país, eu diria algumas décadas em relação ao transporte ferroviário que foi a tendência mundial.  

Porém, com este reencontro começa a compreender a necessidade de investimentos no transporte sobre trilhos em todos os sentidos e tudo que venha agregar será válido, tanto para o transporte de cargas como o de passageiros.

3ª Entrevista: Realizada em 16/09/2011 com o Secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Jurandir Fernandes.

SINFERP: Existe algum projeto de um ferroanel para passageiros?

Jurandir Fernandes: Atualmente não, hoje nosso foco é investir nos trens regionais que ligarão uma cidade na outra. Porém não descartamos nada, o ferroanel poderia ser uma ajuda no caso de passageiros, mas não pensamos em nada neste momento. Agora em relação ao ferroanel pelo transporte de cargas, daremos inicio pelo Norte, porque a oportunidade é boa, há interesse de uma concessionaria que é MRS então ela pode participar. Há possibilidade de engatar nas licenças ambientais do Rodoanel. Uma licença ambiental com uma faixa de domínio em torno de 150 metros, então com mais 30 metros de extensão pode facilitar o licenciamento, aproveitar o traçado, a terraplangem, muito coisa boa dá para fazer em relação a isso.  

Por Camila Mendes
Da Redação