Não resta dúvida que audiências públicas têm um caráter meramente protocolar, uma espécie de “oportunidade democrática” para a participação da “sociedade civil” (sic), mas, mesmo assim, representam a única portinhola para osoutsiders, isto é, para os que não têm poderio econômico e político para influenciar decisões de governos.
No caso das audiências públicas promovidas pela Frente Parlamentar Mista das Ferrovias, o rito protocolar não é diferente, mas não deixou de causar espanto o esvaziamento do Seminário da Região Sudeste, promovido em São Paulo: um representante de Minas Gerais, um do Espírito Santo, nenhum do Rio de Janeiro, e apenas dois ou três do próprio Estado de São Paulo.
Lembrando que os seminários regionais da Frente têm um caráter “diagnóstico”, com vistas a preparar o Encontro Nacional no mês de outubro em Brasília, quando será decidido para onde serão destinadas verbas do PAC para as ferrovias, fica uma pergunta: será que nem mesmo parlamentares (representantes da sociedade civil) da região sudeste têm o que dizer e pleitear para o setor ferroviário de seus estados?
No Seminário da região sul, entretanto, o cenário foi outro. A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, diferente do que aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo, esteve relativamente bem representada por atores dos três estados do sul, de onde saiu, inclusive, o que se denominou “Carta do Sul”. Nada similar saiu do Seminário de São Paulo (na verdade, Região Sudeste).
O Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana (SP) esteve presente, discursou em favor da Revitalização da Malha Ferroviária Paulista. Denunciou o desmonte do modal. Reclamou do uso privado da malha ora existente para interesses exclusivos das concessionárias. Apontou para o fato de o Estado de São Paulo tornar-se um mero corredor de exportação de commodities, mas, para nossa surpresa, encontrou acolhida apenas no Seminário do Sul, onde participou como “intruso”.
Indignado, o sindicato vem tentando envolver parlamentares de São Paulo na bandeira da defesa da Revitalização da Malha Ferrovia Paulista antes do encontro nacional da Frente em outubro, mas sem sucesso. Fica a impressão que eles já sabem o que vai ser diagnosticado, que não estão absolutamente interessados na revitalização da malha, ou talvez nem mesmo em ferrovia.
Ao que tudo indica, o desmonte da ferrovia – no Estado de São Paulo – promoveu igualmente o desmonte da consciência ferroviária no estado, ao menos da de nossos parlamentares. Ficamos sós, mais uma vez.
Éverson Paulo dos Santos Craveiro – vice-presidente do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana