Patio do museu |
No ano em que a ferrovia e seus Trens Bala, VLTS, são matéria em todos os jornais do país e do mundo, destacando-se pelo seu baixo custo, segurança e sustentabilidade, encontramos São Paulo como ponto de partida para criação e execução de novos projetos de transportes sobre trilhos. Porém, talvez a questão não seja criar e sim recuperar projetos.
Depois do Rio de Janeiro em 1859, São Paulo foi uma das primeiras cidades a implantar o sistema de transporte público sobre trilhos no país que, possuía 227 km de extensão e qualidade de vida.
Para entender isso, será necessário voltar ao tempo, lembrar-se de quando a cidade de São Paulo dava seus primeiros passos. O Sindicato da Sorocabana esteve no museu de transporte metropolitano do estado, onde encontramos mais do que passado.
De volta para o futuro
Localizado no Centro de São Paulo, o museu dos transportes públicos foi inaugurado em 1985, por um ex-funcionário da Companhia Municipal de Transportes Coletivos – CMTC e um apaixonado pela cidade de São Paulo, o Sr. Gaetano Ferolla. Determinado, iniciou a coletânea do museu com algumas peças cedidas por colegas de trabalho e aos poucos enriqueceu o espaço através de doações feitas por colecionadores.Hoje, mantido e administrado pela SPTRANS, disponibiliza ao público mais de cem anos da história do transporte público coletivo no país e a evolução do urbanismo na cidade de São Paulo, através de veículos, fotos, móveis, objetos e documentos totalmente restaurados.
Entre essas relíquias, encontramos mais do que passado, encontramos funcionários e visitantes completamente rendidos à beleza da terra da garoa na década de 20, com seus bondes luxuosos reluzidos pelas luminárias.
Engenheiro e Presidente do Museu Henrique Di Santoro Junior |
Um exemplo disso é o engenheiro civil e presidente do museu, Henrique Di Santoro Junior que, fez questão de acompanhar o Sindicato durante a visita e nos contou histórias surpreendentes enquanto conhecíamos o acervo que, sem dúvidas, demonstra a ligação da ferrovia com a formação da cidade de São Paulo.
Iniciamos pela réplica do primeiro bonde a chegar a São Paulo no ano de 1872, ainda puxado por tração animal, colocou o Brasil como um dos primeiros países do mundo a adotar o transporte sobre trilhos, antes mesmo de Inglaterra, Alemanha e França.
Segundo os arquivos do museu, esses bondes circularam na cidade somente até 1904, devido ao sistema elétrico inaugurado quatro anos antes, no dia 7 de Maio, pela Light – Companhia de Energia Elétrica.
Os bondes elétricos tinham algumas particularidades, entre elas: calhas que armazenavam águas pluviais que, essenciais para purificação do ar e uma espécie de esteira ligada aos freios para auxilio em casos de atropelamento.
Segundo Henrique, “era um sistema muito simples, bastava o motorneiro (como é chamado o motorista do bonde), frear para que este componente de madeira caísse e batesse no corpo para abrir essa esteira onde a pessoa rolava para dentro e evitava um dano ainda maior. Uma curiosidade é que os bondes que circulam em outros países, como na Inglaterra e, o próprio VLT, têm o mesmo sistema de proteção”, finalizou.
Uma das principais atrações do museu, é um bonde de 1947 de três portas, possuíam poltronas de palha e um sistema de calefação que aqueciam os bancos no inverno. Por ser um veículo luxuoso, ganhou o nome de “Gilda”, em homenagem ao personagem da atriz Rita Hayworth.
Visita agendada de escola municipal |
“Atendemos muitas crianças, adolescentes, e, quando mostramos os bondes e as fotos da cidade de São Paulo naquela época, escutamos comentários incríveis, como o de uma adolescente que ao entrar no Gilda, disse que daria tudo para viver neste tempo, onde era possível conversar em segurança com os amigos em uma cidade sem poluição”, declarou Henrique.
O “Gilda” parou de circular em 25 de Janeiro de 1967, abrindo espaço aos Trólebus. Não existe registro de mais nenhuma unidade deste bonde no mundo, além do Brasil, em São Paulo e Castambul, na Austrália.
Os primeiros Trólebus (ônibus movidos à eletricidade) chegaram ao Brasil em 1954 e também podem ser vistos no museu, entre eles, o Grassi-Villares, projeto piloto do país. Os trólebus, ainda existentes em São Paulo, hoje, depredados pela falta de investimento e manutenção do governo.
O museu apoia projetos em pró do transporte público de qualidade, um deles é o “Respira São Paulo”, que de acordo com matéria publicada no portal G1 da Rede Globo, em 25/08, “têm como objetivo incentivar os transportes alternativos sustentáveis”.
Encerramos nossa visita ao museu, em meio às fotos da cidade que um dia teve a ferrovia como seu principal aliado a qualidade de vida.
Informações Gerais
Quem quiser conhecer o museu Gaetano Ferolla e um pouco da história do transporte público de São Paulo, ele está localizado na Avenida Cruzeiro do Sul, 780 – Canindé / São Paulo (próxima à estação Armênia do Metrô).
Funcionamento: de terça a domingo, das 9h às 17h.
Entrada franca.
Em casos de visitas agendadas para instituições de ensino entre em contato pelo telefone: (11) 3315-8884 ou acesse www.sptrans.com.br
Por Camila Mendes
Da Redação