Ainda que animado com a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária Paulista – com a qual manifestamos compromisso de colaborar de corpo e alma – e honrado com o convite para o evento de 22 de março, um detalhe chamou minha atenção: a presença do secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes.
Nada contra a presença do secretário, decerto, mas ele representa a pasta dos transportes “metropolitanos”, enquanto a Frente está na defesa da Malha Ferroviária Paulista, e não apenas da ferrovia metropolitana paulista.
Por que não – ocorreu-me – a presença de Saulo de Castro Abreu Filho, titular da Secretaria Estadual de Logística e Transporte de São Paulo?
Visitando o portal dessa secretaria, entretanto, não foi difícil compreender os motivos da ausência. Ela não tem em sua estrutura, missão, programas e projetos, nem mesmo uma linha sobre ferrovias. Cuida de aeroportos, hidrovia, portos, concessões rodoviárias, qualidade rodoviária, rodoanel, mas nem mesmo menciona a ferrovia.
Isso significa que o governo do Estado de São Paulo não tem sequer um projetinho para trilhos, além dos atuais, exceto um ou outro de pequena distância da capital.
Além de desativar o que um dia pode-se chamar de Malha Ferroviária Paulista, de passar toda ela ao controle do governo federal, que repassou a preço de banana para a exploração do setor privado, e que nem mesmo disciplina o escambo, o governo de São Paulo não tem nenhum projeto no sentido de recuperar ao menos alguma parte do que foi literalmente desmontado?
Se for assim, a pergunta que fica é a seguinte: o que pode fazer a Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária Paulista? Não mais existe tal malha (exceto no nome), e o que restou está no âmbito da governabilidade federal (que não governa).
Qual será o papel da Frente? Contentar-se com os projetos de trens metropolitanos que serão apresentados pelo Sr. Jurandir Fernandes? Cobrar do governo de São Paulo a criação de algum projeto de transporte ferroviário para nosso estado? Cobrar do governo de São Paulo para que cobre do governo federal a devolução de trechos desativados e abandonados pelas concessionárias privadas?
Eu gostaria se caminhasse nas duas últimas direções: 1) procurar saber do atual governo do Estado de São Paulo o que planeja para o modal ferroviário em terras paulistas e 2) fazer gestão firme junto ao governo federal, para que trechos desativados e abandonados sejam devolvidos aos paulistas, até mesmo para que seja possível criar projetos para eles.
No meu entender, portanto, a Frente tem como atuar sim, e com boa margem de sucesso e adesão.
Éverson Paulo dos Santos Craveiro – Presidente do Sindicato dos Ferroviários de Trens de Passageiros da Sorocabana (SINFERP)