segunda-feira, 19 de março de 2012

Trens e metrô no gargalo: e agora José? (artigo)

O que parece ser uma unanimidade, ao menos dentre analistas honestos, é que os transportes de pessoas sobre trilhos, na região metropolitana de São Paulo, estão aquém das necessidades públicas.

Estão sim, e esse cenário vai ficar pior por um bom tempo, uma vez que inexiste a possibilidade de solução no curto prazo.

Nessa hora, há o reconhecimento igualmente unânime, de que o modal não recebeu atenção e investimentos em passado distante e próximo, que pudessem permitir outra situação no presente.

Não. Nem atenção e nem investimentos. Governos apostaram em asfalto e pneus, mas pouco ou quase nada em trilhos.

Asfalto e pneus entraram em estado de saturação, motivo de cada vez mais pessoas recorrerem aos trilhos, agora visivelmente insuficientes para atender a todas elas. Até o Metrô, empresa que sempre foi um símbolo de modernidade sobre trilhos - e orgulho dos paulistanos -, começa a apresentar sinais de fadiga. Está no limite, ou talvez operando um pouco além dele, embora seus gestores estejam sempre demonstrando cuidados com segurança. De fato, não se escuta falar em acidentes com passageiros e metroviários.

Não se pode dizer o mesmo da CPTM. Prima pobre do Metrô, embora mãe ou mesmo avó - se nos lembrarmos de que metrô é também uma ferrovia -, a estatal não consegue avançar no tempo e no espaço. Seus aproximados 260 km de trilhos existem há décadas. Alguns trechos surgiram, é verdade, mas muitos outros foram desativados, o que também é verdade.

Melhorou, dirão muitos, tomando o passado como referência. Claro que sim, mas perdeu – e de longe – posição para sua prima rica, que anda as voltas dos 30 anos de idade, com não muito mais do que 70 km de trilhos, embora com um número proporcionalmente maior de funcionários.

Como tudo isso chegou a esse ponto?

Uma das razões mais nítidas, a meu ver, é o pensamento equivocado de gestores públicos (não temos estadistas faz tempo) e da própria CPTM. Conduzem a empresa com norte no conceito de “demanda”, como se fosse uma empresa privada qualquer. Desse conceito também não escapou o Metrô, motivo de sua pequena malha.

Metrô e CPTM não são empresas privadas. Têm uma finalidade pública e social e, nessa medida, não podem ser regidas pelo princípio da demanda.

Como, entretanto, governos pensaram e ainda pensam dessa forma, cabe perguntar: o que farão, agora, para atendimento do evidente excesso de demanda?

Para tornar as coisas ainda piores, seus clientes (é o termo certo para quem gosta de pensar com valores de mercado) foram incentivados – pelos demais atores do mercado – a exigir qualidade, condição que as estatais de transportes sobre trilhos - muito em especial a CPTM -, estão longe da capacidade de atender. 

As pessoas não querem apenas um trem. Querem que seja bom, bonito, seguro, confortável e se possível barato.

Diante desse “paradigma em voga”, Metrô e CPTM encaram o desafio não apenas de fazerem mais (maior oferta de intervalos, número de trens e de lugares nas estações e nas composições), mas igualmente de fazerem melhor.

Condicionado pelos limites de ação no mundo subterrâneo, o Metrô não tem como expandir espaços nas estações, por exemplo. Nisso a CPTM, pelo fato de atuar na superfície, leva imensa vantagem, mas falta à empresa qualquer esboço de criatividade, e menos ainda de bom gosto. Continua no passado, regida pela mentalidade de “subúrbio”. Nessa medida, tem espaço para fazer “mais”, mas não tem a menor capacidade de fazer “melhor”. O Metrô, nas atuais condições, tem mentalidade para fazer ainda melhor, mas não tem espaço para fazer mais.

Da mesma forma que governos se tornaram reféns do asfalto e dos pneus, nos quais tanto apostaram no passado, são agora reféns da equivocada adoção do conceito de demanda, que tomaram como princípio para as suas tomadas de decisões.

Tínhamos um problema, e agora temos dois.

Por Rogério Centofanti