Não é muito comum um sindicato defender o “negócio” e o “cliente” da categoria que representa, mas não queremos ficar no lugar comum.
O passageiro e o trem são as razões de existência do ferroviário, assim como o ferroviário é a razão de existência do sindicato.
Não bastasse essa consciência há, no caso do ferroviário, um fato peculiar: trata-se de uma categoria centenária, ao exemplo do marítimo.
Foi a bordo dos trens que as pessoas viajaram pelos continentes, da mesma forma que a bordo de navios cruzaram os continentes.
Tudo isso parecia coisa do passado – de onde um forte apelo saudosista, possível apenas ao que tem lugar na memória – quando as distâncias terrestres foram encurtadas pelos ônibus e automóveis, da mesma que as distâncias marítimas foram vencidas pelo ar, sustentadas pelas asas das aeronaves. Isso se mostrou verdadeiro, ao menos para o transporte de pessoas.
Por conta dessa aparente obsolescência, criminosamente erradicaram ramais inteiros no interior e no litoral de São Paulo, a CSN deixou de fabricar trilhos, e pelo menos duas indústrias ferroviárias brasileiras literalmente quebraram – aMAFERSA e a COBRASMA.
Por ironia histórica, ônibus, automóveis e aviões saturaram as ruas, avenidas, estradas, aeroportos e até mesmo o espaço aéreo, resultando no retorno dos trens de passageiros como promessa de solução para o presente, da mesma forma que foi solução no passado, quando substituiu os cavalos e as carruagens.
Cumprirá essa missão, sem dúvida, da mesma forma que cumpriu no passado, mas, agora, com a exigência posta pelos novos tempos, isto é, a premência da velocidade.
Embora mantenham a mesma configuração original – trilhos, locomotivas e carros -, os trens modernos, ajustados tecnologicamente ao longo de décadas, farão melhor do que os ônibus e os automóveis, e nem mesmo precisam ser TAVs (trens de alta velocidade) para competir com os vôos regionais.
O trem – esse veículo sobre trilhos – pode atender as mais diversas necessidades. Ainda hoje, em Lisboa, circula com o nome de elétrico – por nós conhecido como bonde – e não apenas enquanto um brinquedo turístico. Nas ruas de muitas outras cidades europeias, convive com pessoas e bicicletas, com um jeitão futurista, denominado VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) urbano. Um modelo mais “parrudinho” – mas igualmente VLT -, circula entre o centro urbano e os bairros periféricos. Lembram os “trenzinhos” de Campos de Jordão (SP) e do Corcovado (RJ), dois VLTs históricos em nosso país, e eletrificados há décadas.
Trens servem, pela superfície ou pelo subterrâneo das metrópoles, a milhões de pessoas em todos os dias do ano.
Não será diferente entre cidades de um mesmo estado, e entre cidades de diferentes estados.
Incrível. A solução do presente e do futuro já estava posta no passado. Essa é convicção de que São Paulo TREM Jeito.
Éverson Paulo dos Santos Craveiro – vice-presidente do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana.