O trem na terra, ao exemplo do navio nos rios e mares, foi o primeiro meio de transporte coletivo moderno. A locomotiva primitiva era, literalmente, um cavalo de ferro, posto substituir a tração animal pela tração mecânica.
Inicialmente movidos a vapor, pela queima de lenha ou carvão, os trens migraram para os combustíveis fósseis e não faz pouco tempo adotaram a energia elétrica.
Nessa medida, os trens anteciparam os dias de hoje, movidos a preocupações com os efeitos da queima de combustível fóssil necessária ao movimento dos automóveis, motos, caminhões e ônibus.
Por inúmeras razões, entretanto, o trem continua habitando o imaginário das pessoas como modal do passado, embora, na verdade, continue sendo a manutenção de uma modernidade ainda insuperável.
Algumas dessas razões são facilmente identificáveis. A ferrovia foi literalmente desmontada para atender aos interesses do petróleo, em torno de subprodutos que deram nascimento ao asfalto e a toda a indústria automobilística. Os caminhos de ferro foram abandonados em detrimento das rodovias, da mesma forma que os trens em detrimento dos ônibus e caminhões. Pessoas e coisas passaram a transitar sobre pneus, e não mais sobre rodas de aço.
Há, na atualidade, uma nítida clareza que se faz necessário resgatar o que no passado se renegou ao abandono, mas nos vemos as voltas com dificuldades dessa migração às avessas. Parte de nossa malha ferroviária - que era abundante – perdeu-se no meio do mato e das ocupações, e parte está inteiramente a mercê das concessionárias privadas que delas fazem uso monopolista, em proveito apenas dos próprios interesses.
Diante desse impasse, restam poucas opções: desbravar novos leitos ferroviários - como fizeram nossos antepassados - recuperar os leitos abandonados e, em nome do interesse público, obrigar as concessionárias a compartilhar os trilhos.
No que diz respeito ao transporte de pessoas sobre trilhos, poucas ações apontam em pelo menos uma das alternativas anteriores.
Pena que o Estado de São Paulo tenha perdido completamente o espírito de seus pioneiros, dos verdadeiros empreendedores que construíram esta potência, que tem um débito impagável com a ferrovia e os ferroviários, pelo que representaram e ainda podem representar ao desenvolvimento social e econômico deste pedaço do país.
Apesar da fraqueza anêmica de nossos governantes, ainda é possível acreditar que São Paulo Trem Jeito.
Rogério Centofanti