Após correr pela linha do trem , não faltou forças para o montador automotivo Cláudio Almeida dos Santos, 30 anos, gritar e acenar desesperadamente para o maquinista do trem que ameaçava colidir com o ônibus que caiu sobre a linha férrea, na manhã de quinta-feira, em São Caetano.
Ele foi o primeiro passageiro a conseguir sair das ferragens do coletivo e pedir ajudar para as outras 14 pessoas que estavam presas. Santos compareceu ontem ao 2º DP de Santo André para buscar documentos pessoais e revelou: ele não se considera um herói. "O mais importante foi ter voltado para o ônibus e tentar ajudar o pessoal a sair."
Ao sair do ônibus tombado, Santos lembra de ter tentado ajudar uma senhora a se levantar. Em seguida, averiguou a situação da motorista. "Ela não parava de perguntar o que havia acontecido."
Em seguida, ele saiu por uma das janelas do fundo do coletivo. "Ouvi algumas pessoas gritarem: ‘Olha o trem'. Foi quando olhei para os trilhos, e ao longe avistei uma luzinha", relatou.
Ele não sabe por quanto tempo correu e nem mesmo a distância. Santos sequer notou os pequenos ferimentos. "Corri muito e fiquei em frente à locomotiva. Acenei muito para que me vissem."
O passageiro sabe dizer apenas que estava distante o bastante para não presenciar a colisão da composição com o ônibus. "Vi essa cena pela televisão, pois naquele momento o mais importante era ajudar os passageiros."
O montador mora no bairro Prosperidade. No dia do acidente, Santos tomou o coletivo para ir a uma consulta médica, no Centro. Ele estava de folga do trabalho. "Havia uma semana que pretendia marcar a consulta. Tive a opção de ir ao médico um dia antes", relembrou.
Com experiência no ramo automotivo, o passageiro conta que o ônibus não estava em alta velocidade. "A motorista (Lilian Souza Freitas, 30 anos) fez a curva e tentou corrigir a posição do veículo, manobra normal para quem tem de passar naquela ponte."
Segundo a vítima, o coletivo perdeu a direção tão logo chegou ao piso de paralelepípedos. Depois disso, o veículo tombou sobre a mureta, que cedeu ao peso. "É um local muito escorregadio", disse, sobre o piso da ponte.
No sentido contrário à condução, Santos relembra que seguia um veículo de passeio. "Mas não estava na contramão e acho que não atrapalhou a manobra do ônibus."
O montador faz parte da lista de 18 pessoas arroladas no inquérito policial. Segundo o delegado plantonista da delegacia, Roberto Von Hayden, os depoimentos podem começar hoje e prosseguir ao longo da semana.
Maquinista aproveita encontro com Alckmin e fala de salário
O maquinista Edinalvo Delmiro da Silva, 40 anos, aproveitou evento com a presença do governador Geraldo Alckmin, ontem, para dizer que espera que o governo tenha "sensibilidade" em relação aos salários dos ferroviários.
Edinalvo negou ter sido herói por ter conseguido parar o trem antes que ele atingisse a cerca de 90 km/h o ônibus que havia caído do viaduto. Ele passou todos os méritos para o passageiro do ônibus que o avisou do problema.
"O herói foi o rapaz que veio correndo na minha direção. Ele sinalizou quando eu estava a cerca de 200, 250 metros do ônibus e aí consegui parar. Eu só encostei no ônibus, só acabei empurrando", disse, na manhã de ontem, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), durante a entrega de novos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
Silva trabalha há 15 anos na CPTM, 11 como maquinista. Ele conta que precisou acionar o freio de emergência algumas vezes, mas nunca em uma situação como essa. Alckmin ressaltou o feito de Edinalvo - a quem chamou de "Edinaldo" pelo menos por três vezes. "Com sua habilidade, sua formação profissional, ele conseguiu segurar o trem, evitando uma grande tragédia." O maquinista usava adesivo do movimento de greve da CPTM, que foi retirado durante a aglomeração do evento.
Diário do Grande ABC - Renan Fonseca - 11 de junho de 2011
Diário do Grande ABC - Renan Fonseca - 11 de junho de 2011